Dê-me licença meu Santo,
Querido e grande São João,
Deixe-me fazer proteja,
A minha adivinhação!
Ao colocar uma faca
No tronco da bananeira,
Gravado na faca está,
Letra da paixão primeira.
Numa bacia com água,
Dentro pedras de carvão,
Ao se unirem ganho está
O sonhado coração.
Duas agulhas boiando,
Num vai e vem muito amigo,
Ao se juntarem revelam,
A volta do amor antigo.
Na água pingos de vela,
Ligeiros vão desenhando,
A letra do bem amado,
Vão muito firme traçando.
No jejum da meia noite,
Do que comer todo dia,
Guarde de tudo um restinho,
Espere com alegria.
Ao dormir verá em sonho,
Àquela mesa sentado,
Jantando daquelas sobras,
O seu predileto amado,
Num fio do seu cabelo,
Se pendure uma aliança,
Sobre meio copo d’agua
E reze com esperança.
A aliança ao bater,
Três, duas, uma pancada,
Dirá quanto tempo falta
Para você está casada.
Se não tiver de casar,
Prepare o seu coração,
A aliança bate tanto,
E não quer parar mais não!
Ao se encher de água a boca,
Vá rezando com fervor,
E junto à fogueira escute
O nome do seu amor.
Escreva em vários papéis,
Algum nome que prefere,
Ponha ao sereno e durma,
No dia seguinte espere.
Passando a noite junina,
Já o dia a despontar,
Um dos papéis abertinho,
Seu amor vai lhe mostrar.
Debaixo do travesseiro,
Quando você for dormir
Coloque o nome de alguém
Que você quer conseguir.
Reze bem com devoção,
A São João protetor,
Que há de lhe mostrar em sonho,
O rosto do seu amor.
Cubra de branco uma mesa,
Coloque terço, aliança,
Feche os olhos, vá tocando
Procure com esperança.
Se tocar no terço, aguarde,
De freira é a vocação,
E se for na aliança,
Terá um casamentão!
Se em nenhum dos dois tocar,
De você se tenha dó,
Vai ficar como outras tantas,
Nas malhas do caritó.
Minha amiguinha, você,
Vai entender, desculpar,
Faça a adivinhação
Mas sem nela acreditar!
São maneiras de alegrar
Seu jovial coração,
São brincadeiras, folclore,
Das festas de São João!
Publicado no Jornal Vanguarda
21/06/1991