Como me agradas, me animas, me confortas, me alegras, me enterneces verte a mesma amiga de sempre!…. Rosto redondo, ar festivo, um ligeiro sombreado, tranquila desafiando a beleza de quantas feéricas iluminações! . . . Tu, só tu, na imensidão desta abóbada cerúlea, tens mais encantos do que milhares de lâmpadas elétricas a iluminarem incontáveis cidades e vilas… Tu, somente tu, conforme a nossa visão, uns poucos centímetros, ofuscando estais quantos Estados e Países. Destinada és, ao encantamento, a admiração. Vês a vigília noturna, os segredos amorosos, as confidências sagradas, a meditação, o companheirismo dos solitários, o extravasar dos afetos, o evolar-se de canções românticas, o desenrolar-se de sentimentais serestas, o balbucio das angelicais crianças escutando a cantarolada materna: ” vem mamãe lua, vem amada minha, me dá pão com farinha, pra quem nada tem … ” Imutável na tua beleza, na tua bondade, no teu acolhimento e suavidade, trazendo aquele ameno brilho, retocado de uma aragem, tal carícia materna, constituindo uma mágica despedida … vai-se o sol, vem a noite quando mais ostentas o teu incomparável brilho.
Eu me lembro, tu eras mesmo assim, ingênua, como a sorrir carinhosa enfeitando os rincões brejeiros de minha Terra, de minha infância, da adolescência, de minha modesta e saudosa vida de criança. Não havia eletrificação, não havia rádio, nem televisão, nada, nada, mas havia muito … esse luar antigo e muito novo, amigo imutável a me escutar histórias complexas, fostes e és a companheira dos meus dias, confidente, testemunha dos meus inocentes erros, dos meus erros infantis, do coleguismo alegre e bom, das cantigas do terreiro… , das minhas casas de bonecas, das minhas lágrimas … , da minha ignorada solidão. Por que solidão, se me tens por companheira inseparável?… Oh, amiga das silenciosas noites indormidas, quando interna, recebia notícias sombrias de minha casa, de minha órfã e pobre família. Quando aturava saudades imensas de minha mãe, de meus irmãos …
Lua, eu te quero, te admiro, te amo como presença de quem te fez divinamente bela. Obrigada meu Senhor e meu Grande Deus!
03/02/1985