Em Tempos de ECO 92…
A Voz do Ipojuca

Venho do seio da Serra,
Encostas várzeas cortando,
Histórias, quantos segredos,
Para o mar vou carregando.

Ladeio serpenteante,
O vale em fertilidade,
Do sofredor lavo o pranto,
O seu tormento e saudade…

Inverno denso, as enchentes,
Soberbo me comportei,
Inconsciente, cruel,
Algumas vidas ceifei.

A despeito dessa mágoa,
Tenho outra face sentida,
Aos campos, vilas cidades,
Dei riqueza e muita vida.

Ao artista dos bonecos,
O barro vem com fartura,
Na feira do ceramista,
Mostro folclore e cultura.

Outrora tranquilo e puro,
Da nascente até a foz,
Dessedentar foi meu canto
Fazer o bem minha voz.

A insinuar-me abri,
Floridos verdes caminhos,
Cansado, inda mato a sede,
Das plantas, dos passarinhos.

Indômito, forte e altivo,
A transpor rochas, vergéis,
Hoje vencido nem posso,
Lavar da Princesa os pés!…

Eis a herança malsã,
Duma culpa original,
Desleais, ingratos seres,
Pagando o bem com o mal!

Senhores por piedade,
Um povo unido é poder,
Que se salve o Ipojuca,
Não deixe o Rio morrer!

Que não chore esta Princesa,
Por um idílio frustrada,
Num leito triste e vazio,
Sem Velho Pájem, sem nada!…

Publicado no Jornal Vanguarda
12/06/1992